Ateliê Afropolitano

O Ateliê Afropolitano consiste numa atividade do Projeto de Pesquisa “Práticas cosmopolíticas de um ponto de vista geofilosófico” (PIBIC/UNILAB).

Seu intento é constituir um espaço de estudos distinto daquele formado pelo que o pensador camaronês Achille  Mbembe caracterizou como “discursos” sobre a África e sobre “os mundos até bem pouco tempo atrás colonizados”, tais como o “africanismo”, o “afro-radicalismo”, o “afro-centrismo” e suas “variantes”, o “nativismo”. Para se destacar de tais discursos e seus dilemas, quase sempre dilacerantes, Mbembe propõe a noção de “afropolitanismo”, a qual define, para ele, uma “sensibilidade cultural, histórica e estética”. Com esse conceito, Mbembe faz  referência à “circulação de mundos” e à conseqüente diversidade que dela resulta, ao invés das fronteiras, segregações e polarizações imobilizantes que o colonialismo produziu. Para além de todo discurso sobre “essência”, “tradição”, “natividade”, Mbembe mostra que o continente africano sempre foi um “lugar de circulação”. Primeiramente, ao receber fluxos de povos de outros lugares, vindos da Ásia, da Europa e da Arábia. “Se os Negros-Africanos formam a maioria da população do continente, eles não são nem o únicos habitantes, nem os únicos produtores de arte e de cultura”. Isso caracteriza o continente tanto em sua história pré-colonial quanto na contemporaneidade. Com efeito, a história pré-colonial das sociedades africanas, aponta Mbembe, é “a história de pessoas incessantemente em movimento através do conjunto do continente”, ou seja, uma história de “culturas em colisão”, de “invasões”, de “migrações”, de “casamentos mistos”, “de religiões que são apropriadas”, de “técnicas que são trocadas”, de “mercadorias que são vendidas”. Falar de tal história da circulação e da itinerância, continua Mbembe, é a mesma coisa que “falar de misturas, de amalgamas, de superposições”. Por outro lado, a África constituiu/constitui um lugar de partida para diversas partes do mundo. No passado, a escravidão e o colonialismo foram o motor desses deslocamentos forçados e criminosos. No presente, é preciso ser atento aos diferentes tipos de fluxos imigratórios. Seja como for, insiste Mbembe, a diáspora faz com que milhões de pessoas de origem africana sejam cidadãos de diversos países do globo. Há, desse modo, frisa o pensador, uma história do mundo de que a África é depositária. Essas circulação de mundos, que caracterizou o continente no passado, é mais presente do que nunca e Mbembe a designa com o termo afropolitanismo. Com ele, o pensador busca caracterizar uma “cultura transnacional” contra o “câncer do nativismo”. Diferentemente do panafricanismo, que promovia uma solidariedade negra, difícil de sustentar  “a partir do momento em que África desperta sob as figuras do múltiplo (inclusive o múltiplo racial) que são constitutivas de suas identidades”, o Afropolitanismo expressa “a consciência dessa imbricação entre o aqui e o alhures”, a “presença do alhures no aqui e vice-versa”, a “relativização das raízes e dos pertencimentos primários e dessa maneira de abraçar, com conhecimento de causa, o estranho, o estrangeiro e o longínquo”, “essa capacidade de reconhecer sua face no rosto do estrangeiro”.

A Unilab, pela suas missões de integração internacional e de cooperação Sul-Sul, sobretudo com países africanos, pelo seu papel na contribuição para a reparação aos séculos de escravidão no Brasil,  deve desempenhar um papel impar para pensar o afropolitanismo contemporâneo numa perspectiva crítica, interdisciplinar e intercultural.

Para isso, o Ateliê Afropolitano prevê a execução das seguintes atividades:

  •  Projeto de Extensão Francofonia Afropolitana
  •  Grupo Leituras Fanonianas
  •  Oficina de Tradução
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Frantz Fanon

Achille Mbembe.

Achille Mbembe.

Referência: Mbembe, Achille. Afropolitanisme. Artigo publicado originalmente em 20 dezembro de 2005, no Le Messager (Douala) e retomado posteriormente na obra Sortir de la Grande Nuit. Essai sur l’Afrique Décolonisée.

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